Sabe “aquela coisa que bate, bem fundo, aqui no peito”? Quase sempre é
difícil explicar o que se sente, talvez porque sentimentos possuam uma natureza
bem diferente das palavras, e isso pode ser explicado pelo fato de que em nossa
moradia interna podem coabitar seres tão distintos, embora, paradoxalmente,
eles formem a mesma unidade: o Eu.
Expressar um sentimento não é coisa qualquer. É um ato nobre, embora
engolido pela montanha de lixo-plástico, de coisas descartáveis e temporárias
que são os dias atuais. Talvez por sua nobreza e significado seja algo tão
difícil. Ora, existe algum grande ato, nobre em sentido e significado, que
tenha sido simples? Rápido? Fácil? Desde a época de Alexandre até Martin Lutter
King, nenhum exemplo de grande feito remonta à simplicidade, mas sim a muito
suor e pedras no caminho.
Mas o que dizer do fracasso em se expressar um sentimento? Ou melhor, do
fracassado, incapaz de expressar a outro, de semelhante natureza, algo que ele
conhece tão bem quanto a si mesmo? Como explicar que seja mais fácil cruzar uma
fronteira interestadual, acessar informações globais e tecer diversas redes de
contatos sociais do que acessar a essa fonte de conhecimento tão próxima, e
presente? Como lidar com um fracasso tão improvável?
É triste saber que coletamos muitas pedras, porém construímos poucos
castelos. Somos capazes de purificar a água, mas não a própria alma. É possível
odiar e criticar alguém que mal se conhece, porém não conseguimos, ao menos,
nos amar verdadeiramente e, tampouco, lidar com nossos erros e tecer uma
crítica reflexiva para nos fazermos pessoas melhores. Muito mais triste é saber
que cruzamos a fronteira do conhecimento, mas ainda estamos profunda e
inevitavelmente longe do autoconhecimento.
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