quarta-feira, 25 de abril de 2012

#1 - Adquirindo autoconhecimento: Mapas mentais

Olá pessoal, peço desculpas por não ter realizado a postagem ontem, conforme previsto pelos dias de postagem (Terças, Quintas e Domingos). No entanto, amanhã teremos outra postagem.
A primeira dica da primeira série do Blog: Adquirindo Autoconhecimento é sobre a utilização de mapas mentais para aprimorar seu autoconhecimento.
Primeiramente, vale a pena fazer uma breve descrição sobre o que são mapas mentais: 


Mapa Mental é o nome dado para um tipo de diagrama sistematizado pelo inglês Tony Buzan voltado para a gestão de informações, de conhecimento/capital intelectual, para a compreensão e solução de problemas, memorização, aprendizado, como ferramenta de brainstorming e no auxílio à gestão estratégica de uma empresa ou negócio (Fonte: Wikipédia)


Trata-se de um instrumento poderoso, não?

Para construir um mapa mental é importante que ele parta de um centro (coincidente com a ideia central que motivou a construção do mapa) do qual partem as demais informações relacionadas. A existência de linhas que vinculam a informação central com as ideias dela irradiadas, e as demais irradiações de ideia são o grande mérito dos mind maps, pois essas linhas criam conexões entre os conceitos apresentados, o que representa, de forma simbólica, o modo como o próprio cérebro funciona.



Por todas essas características, o mapa mental pode ser um eficiente instrumento para o aprimoramento do autoconhecimento. Mas, como construir um mapa mental para essa finalidade?

Primeiramente, os M.M podem ser elaborados manualmente ou por programas de computador especializados. Um programa que eu recomendo para essa finalidade é o Mindomo : http://www.mindomo.com/pt/ Caso haja preferência pela versão manual, é importante trabalhar com esquemas de cores (utilizar a mesma cor para idéias do mesmo agrupamento e utilizar cores diferentes para diferentes desdobramentos) e não esquecer da utilização de linhas - elas são a principal característica do M.M.

Pensando na utilização do mapa mental para promover autoconhecimento, pressupomos que a construção desse mapa deve responder a algumas perguntas sobre você mesmo. As perguntas a serem realizadas dependem da situação e dos impasses atualmente enfrentados pelo indivíduo. No entanto, algumas perguntas genéricas podem ser extremamente relevantes, tais como:
a) Quais foram os momentos mais significativos em minha vida até esse momento?
b) Qual foi minha maior situação de superação?
c) Qual foi, até o momento, minha maior conquista pessoal/profissional?
Obs.: Nesses dois pontos, é importante que se reflita sobre o porquê dessas situações serem consideradas tão significativas.

d) Qual foi uma situação marcante em que eu tive que lidar com um imprevisto?
e) Qual foi o maior erro que eu já cometi no âmbito pessoal/profissional
Obs.: Nesses dois casos, a reflexão deve apontar, principalmente, as atitudes tomadas diante dessas situações de crise.

f) Se eu pudesse definir, em 3 dimensões, meu objetivo profissional/pessoal, quais seriam?
g) Quais são meus 3 principais valores? (Dos quais eu não abriria mão/dos quais eu sempre me utilizo para guiar decisões importantes)
h) Quais são minhas maiores qualidades? E os meus pontos de desenvolvimento mais significativos?
Obs.: Ao refletir sobre qualidades, é importante pensar de que maneira e em que situações essas qualidades  o ajudam a atingir seus objetivos pessoais/profissionais e/ou a realizar suas atividades. Da mesma forma, ao pensar nos pontos a desenvolver, é importante destacar em quais situações eles podem provocar dificuldades e como se tem lidado com essas características.

i) Qual meu plano de vida/plano de carreira para daqui 5 anos?
Obs.: Essa reflexão está intimamente relacionada ao que está sendo feito hoje e como isso pode ajudar a atingir os objetivos de longo prazo.

Obviamente, essa não é uma tarefa tão fácil. Porém, acredito que seus resultados são extremamente positivos pois, conforme já mencionado na postagem anterior (por meio das - sempre ótimas - tirinhas da Mafalda), "nunca se acaba de conhecer a si mesmo".

Segue um exemplo abaixo - e um incentivo - do meu mapa mental para auto-conhecimento. Espero que quem encarar esse desafio possa compartilhar quais foram os resultados alcançados.



Até a próxima dica!



domingo, 22 de abril de 2012

Nova série no blog: Adquirindo autoconhecimento


















Olá pessoal!
Essa postagem está relacionada a uma crítica já realizada em outra postagem de blog (para quem ainda não leu segue o link (http://psicotidianoeetc.blogspot.com.br/2012/03/planos-curvas-e-autoconhecimento.html).

Nessa postagem, eu falei um pouco sobre a preocupação e necessidade, impostas principalmente às pessoas que estão construindo carreiras profissionais, de planejar objetivos e metas pessoais e profissionais. O grande impasse é que, muitas vezes, esse planejamento é realizado sem o mínimo de autoconhecimento, o que pode acabar gerando, num futuro de curto, médio ou longo prazo, insatisfação, falta de motivação e um sentimento de vazio por se ter conquistado coisas que, na verdade, pouco vieram a acrescentar à nossa individualidade.

Sendo assim, decidi criar uma série de posts destacando algumas maneiras através das quais podemos aprimorar nosso autoconhecimento. São metodologias das quais eu mesmo tenho me utilizado, já que também estou num momento decisivo para minha carreira profissional.
Nas próximas duas semanas estarei compartilhando com vocês algumas dessas metodologias - as quais consistem em maneiras práticas, simples e divertidas de descobrirmos um pouco mais sobre nós mesmos...
Interessante, não?

Espero poder contar com os comentários de quem resolver aplicar as dicas e, principalmente, espero que elas possam ajudá-los de alguma forma.
Vejo vocês em breve!!!!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Plano de vôo


Gosto muito das tirinhas de Mafalda, cada uma me faz refletir sobre milhares de acontecimentos, paradoxos cotidianos e, principalmente (talvez o mais importante) pensar, repensar e praticar o autoconhecimento.
Certa vez uma grande amiga - que, provavelmente, como toda grande amiga faz, deve estar lendo esse post - me disse estar um pouco preocupada porque tinha acabado de começar a trabalhar, mais ainda não tinha claro quais eram seus objetivos e metas a curto, médio e longo prazo, na vida pessoal e profissional. A situação se agravou mais ainda quando lhe foi perguntado quais eram seus objetivos de vida, e sua resposta foi um sonoro... silêncio.

Não acredito que não seja importante que tracemos planos, metas e objetivos para nossas vidas. Porém, acredito que seja extremamente prejudicial e até mesmo disfuncional que o façamos sem ter a menor consciência do mais importante - quem sou eu? Ora, parece muito óbvio, porém, devido a exigências cada vez mais dinâmicas e complexas, esquecemo-nos de uma premissa muito importante: Se eu quero saber onde eu quero chegar, o mínimo que devo saber é quem sou eu.

Quais foram os momentos mais marcantes de sua vida? Por que? Quais são seus principais valores? O que te motiva ou motivou no passado a realizar algo muito importante? Por outro lado, o que te assusta, te faz recuar... Quem inspira você? Essas são perguntas sobre as quais, raramente, busca-se pensar, porém suas respostas ajudam a constituir uma ideia sobre quem é você, e montam, de forma gradual, o quebra cabeça do autoconhecimento. Essencial, não apenas para fazer planos, mas para que, através deles, se possa chegar realmente mais longe.

Por fim, gostaria de propor uma reflexão inspirada na tirinha de Mafalda: Não são as pernas que devem acompanhar o que o cérebro lhes impõe como verdade, muito menos o  cérebro deve se basear naquilo que as pernas podem alcançar, mas o cérebro deve usar toda sua capacidade a serviço daquilo que seu coração sente, para que, assim, suas pernas possam te levar mais longe.

domingo, 4 de março de 2012

Formaturas, finais e rompimentos

     Uma menina cheia de sonhos...                                      Uma Psicóloga cheia de... incertezas
                             


  












Em nossa sociedade, é de costume a realização de um evento para demarcar o final de um curso e o início do próximo – seu sucessor. Exemplos dessa prática são instituições muito antigas, tais como o casamento e as formaturas. Há um palpite de que tais instituições sejam quase tão antigas quanto o medo que sentimos ao trocar o certo, conhecido, habitual, pelo duvidoso, incerto e desconhecido.
O curioso é que, em tais ocasiões, é comum que um clima de intensa comemoração envolva tal evento festivo: são exigidas as melhores roupas, toma-se e come-se do melhor, deve-se convidar as mais queridas pessoas (preferencialmente, um grande número de pessoas) para comemorar uma ocasião tão especial, tão marcante, tão...
Alegre...
Triste...
E, nesse momento, o(s) grande homenageado (s) ocupa posição de destaque, afinal, é por ele que todos estão aqui reunidos. Ora, diante de tal ocasião é impossível não se sentir extremamente especial e cheio de...
Esperanças...
Medos...
Será que é possível que sentimentos tão opostos coexistam?
A que sensação, sentimento, impressão deve-se dar prioridade?
Obviamente, ninguém tem a resposta para tais perguntas. Apenas sabe-se que, em cada um de nós há muito espaço para abrigar sentimentos opostos, ainda que eles teimem em surgir concomitantemente.
Toda ruptura, mesmo no âmbito da física, gera algum tipo de desgaste, o que pode ser relacionado a uma perda. A formatura representa a perda da vida que se tinha anteriormente, e, ademais, representa uma identidade, construída por e através de muitas relações, cotidianas ou não, mas, quase sempre, marcantes o suficiente para serem introjetadas na própria maneira com que falamos e vemos a nós mesmos. A formatura representa, também, o final de um ciclo, e, como o próprio nome (ciclo) sugere, o início de um próximo, seu sucessor, quase sempre desconhecido e, consequentemente, temido.
O termo formatura também se associa ao vocábulo “formação”, o que nos remete a crescimento e, mais especificamente, ao processo de crescer. Ora, crescer é extremamente doloroso, envolve perdas e o luto de afetos, hábitos, costumes, certos tipos de relações estabelecidas com outrem e com o mundo. Enfim, crescer dói. E muito. Porém, o resultado do processo de crescimento sempre é positivo, pois, ao crescermos, aumentamos nosso repertório de comportamentos e, lidando de formas diferentes com as coisas do mundo, (formas que, anteriormente, não eram possíveis, pois não tínhamos crescido o suficiente) aumentamos nosso conhecimento sobre ele. Ao crescer, podemos estabelecer novas relações com as pessoas e, principalmente, apenas quando se cresce, pode-se ver, tocar, alcançar e chegar mais longe.
Sendo assim, aceitemos a complexidade que esses desafios nos impõem e estejamos certos de que os rompimentos nos abrem novos caminhos, os quais, inevitavelmente, nos proporcionarão chegar – sempre – mais longe.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sexualidade X sexualização na construção da personalidade infantil




















Conforme prometido no post anterior: É isso aí e ponto final - uma questão de opinião (Se você não leu o post, acesse: ://psicotidianoeetc.blogspot.com/2012/02/e-isso-ai-e-ponto-final-uma-questao-de_14.html) eu gostaria de fazer alguns comentários sobre a profunda diferença (que, quase sempre, é ignorada) entre sexualidade e sexualização infantil, relacionando essa discussão com uma análise do filme Confi@r (para assistir ao Trailer do filme, acesse http://www.youtube.com/watch?v=lf09c7pJb80).
Como já dito, o filme se trata basicamente da estória de uma garota de, aproximadamente, 13 anos que ganha seu primeiro computador como um presente de seus pais, os quais acreditavam que pelo seu comportamento excelente poderiam "confiar" nela. Através de chats, a garota conhece Charlie, que se apresenta como um garoto de 15 anos jogador do time de basquete, mas, na verdade, trata-se de um pedófilo que seduz a garota e dela abusa sexualmente. Um dos grandes méritos do filme, em minha opinião, é que ele não apresenta a realidade do abuso sexual infantil de forma maniqueísta, ou seja, ele demonstra de forma clara que a garota se sente atraída pelo abusador, chegando a se apaixonar por ele. Ela só percebe o que realmente aconteceu algum tempo depois, tendo também descoberto que Charlie sempre se utilizava dos mesmos artifícios para seduzir garotas como ela.

No entanto, para a grande maioria dos espectadores, esse mérito foi interpretado ora como um insulto, ora como uma expressão de que, hoje em dia, as crianças não possuem mais inocência, que as garotas provocam seu próprio abuso através de comportamentos depravados. Resta saber o que tais comentários têm a dizer sobre o fato de que mais de 60% dos casos de abuso sexual infantil são cometidos por pessoas muito próximas da vítima - ou seja, familiares e amigos de grande confiança da família. Será que essas crianças e adolescentes são culpadas pelo abuso cometido por alguém em quem elas confiavam tão profundamente e em quem, em muitas situações, confiaram a própria vida? 
Apesar de amplamente difundidas, as idéias de Freud sobre sexualidade infantil ainda são muito pouco compreendidas e, muitas vezes, são concebidas de forma equivocada e parcial. Desde o século XIX, com ênfase para a publicação de "Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade", Freud atentou para a existência da sexualidade infantil, para o desejo que a criança sente em possuir a mãe, em torná-la objeto de seu desejo. A criança possui zonas erógenas, sente prazer com seu próprio corpo e a sexualidade faz parte de todo o desenvolvimento humano, desde o nascimento, a amamentação, a adolescência, até a morte. Para a época, a teoria de Freud sobre sexualidade infantil foi considerada imoral e desrespeitosa, o que, atualmente, parece um grande absurdo. No entanto, ao ler comentários como esse, é possível que se perceba o quanto informações (com propósitos duvidosos) escancaradas sobre sexo e a maciça sexualização de gêneros, em todas as idades, não produzem conhecimento nenhum sobre sexualidade, e muito menos um autoconhecimento nesse quesito.
Obviamente que as crianças de "hoje em dia" são muito diferentes das crianças de "antigamente". Antigamente, a grande sensação era a boneca Barbie. Atualmente, as bonecas virtuais de RPGs femininos como o Missbimbo propões as seguintes missões às garotas: fazer cirurgia plástica facial, colocar silicone e arrumar um namorado cada vez mais rico, conforme se passa de nível no jogo.
Post do chat do jogo Missbimbo demonstrando a diferença da boneca antes e depois da cirurgia facial e do silicone nos seios

A questão é que a sexualidade existe em todos as etapas da vida, e não possui nenhuma relação com inocência (ou falta de) - cá entre nós, a associação entre sexualidade e culpa, ou falta de inocência é algo que, infelizmente, nós mesmos é que incutimos nas cabeças de nossas crianças e, "graças" a isso, geramos adultos insatisfeitos ou obcecados pela sexualidade em suas diversas expressões, como, por exemplo, a forma física - cultuada e exigida mesmo na mais tenra infância. Aliás, a sexualização (e NÃO sexualidade) que, muitas vezes, é apresentada de formas tão "inocentes" como concursos de beleza infantil, e a forma como os padrões de "certo" e "errado" sobre o que é ser bonito - e aceito - em nossa sociedade, é que gera efeitos de grandes proporções na personalidade da criança, na forma com que essa se relaciona com os demais e com sua própria sexualidade. 
A investida sexual de um adulto, com maior grau de conhecimento e recursos, com o propósito de seduzir uma criança que, por seu menor grau de conhecimento  e recursos, é considerada inferior ao adulto nessa relação, não pode NUNCA deixar de ser considerado um abuso. Ademais, é de extrema importância que os pais, educadores e todos que convivem e fazem parte do processo educativo de nossas crianças estejam atentos às muitas formas de abuso existentes por aí, ou seja, às formas de comunicação e transmissão de informação que as tornam objetos e que, por suas consequências na construção da personalidade infantil, podem impedir que, algum dia, elas tornem-se Sujeitos de sua própria existência.



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Selva X Praia - A "onda" da despersonalização




Participantes do BBB 12 que se denominam integrantes da "Selva"                                               




Cena do Filme "Die Wele" (A onda)










Primeiramente, para contextualizar o leitor a respeito do filme "Die Welle" ("A onda - em português), trata-se de uma experiência conduzida por um professor alemão que percebe, ao tentar ensinar conceitos de Autocracia para seus alunos, que esses não são capazes de perceber realmente o que se passou em períodos da história marcados pela dominação de um regime autocrático - como o próprio período de dominação nazista na Alemanha. Para que seus alunos sintam "na pele" o efeito da autocracia em um grupo que se sente favorecido por essa forma de poder, o professor determina que os alunos da classe constituam um único grupo, sem espaços para dissidência, e, como legitimação desse grupo, várias ações aparentemente insignificantes devem ser tomadas, como a existência de um cumprimento, o uso de uniforme e a criação de regras do grupo que devam ser obedecidas. Tal experiência produz resultados aparentemente positivos no grupo, porém, aos poucos, os membros do grupo vão se desprendendo de sua personalidade em nome de ideais do grupo, o que gera consequências graves para todos os envolvidos. Para quem se interessou pelo filme, segue um link para visualização do Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ZbyCJEIRBaA
Um aspecto abordado pelo filme e conhecido por estudiosos da dinâmica intergrupal é que um grupo de pessoas geralmente se une e passa a existir como um tal por conta de um objetivo comum. É exatamente isso que uniu os participantes dos grupos - Selva e Praia na décima segunda edição do Reality. Por força das circunstâncias, os participantes foram alocados em quartos diferentes, e passaram a discriminar semelhanças em suas trajetórias de vida, crenças e valores e, com o reforço do objetivo comum - derrotar outros candidatos para ser o grande vencedor do Reality Show - aos poucos, iniciaram o processo de grupalização, que é cada vez mais forte conforme avança o programa - o que, por sua natureza polêmica, é reforçado através de pequenos arranjos de contingências dispostos pela produção do BBB 12.
A discriminação das semelhanças entre os participantes de um grupo é um processo de extrema importância no processo de grupalização, o que, como todo processo de discriminação, prefere uma classe de estímulos enquanto pretere outra classe, simultaneamente. Ou seja, ao se identificar com os demais participantes de um grupo, uma pessoa identifica que estes possuem valores, crenças e experiências de vida muito semelhantes aos seus e, ao mesmo tempo, ignora ou pretere as diferenças e dissonâncias existentes entre si e os demais, embora se saiba que semelhanças e diferenças existem entre quaisquer pessoas e que cada ser é naturalmente particular, e peculiar. Esse processo permite a identificação dos membros do grupo, uns com os outros, e é extremamente importante para que haja motivação dos membros do grupo para o alcance do objetivo comum.
Conforme também ressaltado pelo filme, a grupalização pode produzir efeitos benéficos nos indivíduos que se unem por identificações e pelo objetivo comum. No caso do Reality,  é perceptível que os membros do mesmo grupo encontram uns nos outros o apoio em momentos difíceis, buscam conselhos e podem aprender uns com as experiências de vida dos outros. Em suma, o grupo torna a experiência do confinamento mais proveitosa, e mais leve. Entretanto, a grupalização passa a ser um processo maléfico a partir do momento em que ocorre a despersonalização dos indivíduos que o constituem - e passa-se a assumir, no lugar de identidades individuais, a suposta "identidade do grupo". Exemplos claros desse processo ocorrem quando os indivíduos tomam decisões com a justificativa de "Proteger a Selva" - decisões que, muito provavelmente, não tomariam sem ter a identidade do grupo como muleta, ou seja, os indivíduos tomam decisões pelo grupo e em nome do grupo - o que diminui a carga de responsabilidade ( e culpa) pelas consequências dessas atitudes. Outro elemento presente em situações em que a grupalização produz efeitos maléficos aos membros do grupo é a identificação intragrupal e diferenciação intergrupal. Ou seja, conforme já abordado anteriormente, os membros de um mesmo grupo intensificam a percepção das características comuns entre si e, concebendo-se como semelhantes, unidos e unificados, sentem-se especiais por sua unidade, e absolutamente distintos de quem não faz parte do grupo - distintos ao ponto de percebê-los como não-merecedores dos mesmos direitos e oportunidades. Exemplos históricos desse processo podem ser mencionados: o holocausto, o repúdio ao Eixo do Mal que culminou em diversas investidas dos EUA ao Iraque, o conflito milenar entre Israelitas e Palestinos. Obviamente, todos esses exemplos possuem diversos outros determinantes mas a identificação intragrupal e a diferenciação intergrupal ajuda a explicar, em grande parte, as atrocidades cometidas entre seres humanos nesses e em muitos outros momentos vexaminosos pelos quais já passou a nossa sociedade.
Logo no início do filme, o professor faz uma pergunta crucial: "Vocês acreditam que a ditadura poderia voltar a acontecer?" Ao que é respondido, por um aluno, de forma categórica: "Claro que não, somos muito educados para isso". Ao que parece, a facilidade com que o ser humano é capaz de se despersonalizar para justificar ações imorais e, muitas vezes, atrocidades, indica que "educação", pelo menos como a conhecemos atualmente, não é suficiente. É preciso autoconhecimento e autocrítica, dos quais, infelizmente, ainda estamos imensamente distantes.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

É isso aí e ponto final - uma questão de opinião


Bom, primeiramente, o que me motivou a escrever esse post foi o fato de que, durante uma de minhas pesquisas por filmes para assistir, encontrei alguns comentários sobre o filme Confi@r, o qual, basicamente, fala sobre uma garota que ganha seu primeiro computador e é seduzida por um pedófilo através de conversas pela internet (Para quem se interessou, segue o link do trailer http://www.youtube.com/watch?v=lf09c7pJb80). O que mais me chamou atenção não foi o filme em si, mas sim a facilidade com que as pessoas julgavam o fato de uma garota de 13 anos se envolver amorosamente com um homem de 35 anos de idade, que a seduziu e dela abusou sexualmente. Alguns comentários se referiam à garota como “vagabunda”, “pervertida” e a culpavam pela situação em que ficou sua família após a descoberta do abuso sexual sofrido, dizendo que “ela bem que provocou”, e que ela apenas “teve aquilo que queria”.  Ainda pretendo escrever sobre sexualidade infantil, utilizando esse filme como referência, porém, esse é assunto para uma próxima oportunidade.
Os comentários que encontrei a respeito desse filme me remeteram ao modo como as pessoas, atualmente, explicitam e constroem suas opiniões – de modo apressado e forçadamente conclusivo.  Longe do propósito de fazer campanhas anti redes sociais ou contra o fluxo de informações pela internet (o que, certamente, se constitui em um grande avanço à propagação do conhecimento), no entanto, sabe-se que a quantidade de informações circuladas por esse veículo é muito superior ao que pode ser  apreendido pelo ser humano, principalmente se considerarmos a importância e necessidade de se construir uma concepção crítica a respeito dessa informação. Ademais, as interações via redes sociais possuem uma natureza muito diferente das interações face-to-face e, em termos Behavioristas, aumentam significativamente a produção de reforçadores positivos imediatos a partir de um custo menor e/ou produzindo uma quantidade menor de punições ou reforços negativos (o que significa, basicamente, que é possível que exponhamos nossa opinião, que conversemos com pessoas ou que digamos o que vem a nossa mente diminuindo o risco de sofrer uma rejeição e não tendo a necessidade de observar a reação do outro ao que é dito). Ora, e por acaso, não seria essa uma questão de sinceridade? Qual o problema de sermos mais “livres” para expormos o que pensamos? Basicamente, nenhum. Exceto nos diversos momentos em que “ingênuas” opiniões apressadamente formadas influenciam em questões culturais de grande impacto, as quais, tradicionalmente, não são nada simples, e,  considerando-se o farto contexto histórico mundial de intolerância étnica, religiosa (fora os exemplos mais modernos de intolerância a gêneros musicais) faz-se desnecessário citar exemplos de situações em que “ingênuas opiniões”  formadas de modo conclusivo e parcial causaram uma imensa (e desastrosa) conseqüência em nossa sociedade.
Retomando a questão anteriormente aberta: a internet e as redes sociais são um avanço ou retrocesso na sociedade?  A resposta para essa pergunta, nada simples, como já dito, é inconclusiva. Ou seja: depende. Depende da forma com que nós, seres humanos, interagimos com tal recurso e dele fazemos um bom (ou mal) uso. Ora, mas, pensando assim, é impossível que se forme uma opinião correta, desprovida de erros ou de distorções, não é? Exato. Mas o que caracteriza o ser humano não é sua infalibilidade (isso seria, no máximo, o que caracteriza uma boa máquina), mas sim sua disposição e recursos para fazer melhor, até o momento em que nada mais possa ser feito.

I got a feeling...




Sabe “aquela coisa que bate, bem fundo, aqui no peito”? Quase sempre é difícil explicar o que se sente, talvez porque sentimentos possuam uma natureza bem diferente das palavras, e isso pode ser explicado pelo fato de que em nossa moradia interna podem coabitar seres tão distintos, embora, paradoxalmente, eles formem a mesma unidade: o Eu.
Expressar um sentimento não é coisa qualquer. É um ato nobre, embora engolido pela montanha de lixo-plástico, de coisas descartáveis e temporárias que são os dias atuais. Talvez por sua nobreza e significado seja algo tão difícil. Ora, existe algum grande ato, nobre em sentido e significado, que tenha sido simples? Rápido? Fácil? Desde a época de Alexandre até Martin Lutter King, nenhum exemplo de grande feito remonta à simplicidade, mas sim a muito suor e pedras no caminho.
Mas o que dizer do fracasso em se expressar um sentimento? Ou melhor, do fracassado, incapaz de expressar a outro, de semelhante natureza, algo que ele conhece tão bem quanto a si mesmo? Como explicar que seja mais fácil cruzar uma fronteira interestadual, acessar informações globais e tecer diversas redes de contatos sociais do que acessar a essa fonte de conhecimento tão próxima, e presente? Como lidar com um fracasso tão improvável?
É triste saber que coletamos muitas pedras, porém construímos poucos castelos. Somos capazes de purificar a água, mas não a própria alma. É possível odiar e criticar alguém que mal se conhece, porém não conseguimos, ao menos, nos amar verdadeiramente e, tampouco, lidar com nossos erros e tecer uma crítica reflexiva para nos fazermos pessoas melhores. Muito mais triste é saber que cruzamos a fronteira do conhecimento, mas ainda estamos profunda e inevitavelmente longe do autoconhecimento.